MANAUS – O coronel da reserva do Exército Hiram Reis e Silva afirmou na última segunda-feira (26) que a reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, representa um “apartheid em solo brasileiro” e um “campo de concentração”, já que, segundo ele, a demarcação impede a miscigenação entre a população indígena e as pessoas que o militar chamou de “civilizados”.– Nós estamos num país que sempre se caracterizou pela miscigenação, e isso não pode estar acontecendo com aval do Supremo Tribunal Federal, o que demonstra total desconhecimento no que acontece na reserva – declarou o militar, poucos minutos depois de encerrar, em Manaus, a expedição “Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar”, que percorreu 34 cidades e comunidades do interior do Amazonas.Como referência, Hiram Reis citou o caso de um casal formado por uma índia e um “civilizado”, que tiveram de se separar por conta da proibição de não-índios na reserva. Ele conta que o marido da índia teve de ir morar em Boa Vista (RR), enquanto ela permaneceu na Raposa Serra do Sol.Coronel Hiram Reis (de branco) é recebido por militares logo após desembarque em Manaus. Foto: Mário Bentes/Portal Amazônia.Críticas à FunaiO militar gaúcho também criticou veementemente a Fundação Nacional do Índio (Funai) por supostos “empecilhos” que a instituição federal teria criado para o Exército em regiões de fronteira demarcadas como reservas indígenas.– A Funai já tentou impedir que os militares entrassem nos pelotões de fronteira. Ela está extrapolando seus limites. A Funai mais parece um governo paralelo que sistematicamente tem criado empecilhos para a realização de exercícios militares em áreas de reserva – disparou.O presidente da Funai, Márcio Augusto Freitas de Meira, está em Belém (PA) participando do Fórum Social Mundial, e não pôde ser contatado pela reportagem para comentar o caso. Mas a assessoria de comunicação do órgão, em Brasília, informou que vai se posicionar oficialmente assim que conseguir “acionar seus coordenadores”.ONGs estrangeiras também são alvo de críticasEm relação às atividades de Organizações Não-Governamentais estrangeiras com atuação em áreas indígenas, o coronel foi incisivo: “Em áreas pobres, não há nenhuma ONG. Basta dizer que se descobriu ouro em uma reserva que vai chover de ONG por lá”, afirmou o militar, ressaltando a existência de ouro e diamante dentro da reserva Raposa Serra do Sol.– Estão todos de olho naquela região. Então a intenção dessas organizações não é outra senão criar enclaves na área. Nós temos uma área de fronteira enorme, todo ele bloqueado por reservas, e é uma área extremamente vulnerável – alertou.Acionado pela reportagem do Portal Amazônia para comentar as declarações do coronel, o Comando Militar da Amazônia (CMA), responsável pelas atividades do Exército nos estados da região Norte do país mais o estado do Mato Grosso e parte do Maranhão, preferiu não comentar o caso.ExpediçãoAo lado do professor de educação física Romeu Chala, o coronel estava participando da expedição “Projeto-Aventura Desafiando o Rio-Mar”, que passou por 34 cidades e comunidades do interior do Amazonas abordo de dois caiaques, percorrendo cerca de 1,7 mil quilômetros.Iniciada no dia 1º de dezembro do ano passado, em Tabatinga (a 1.105 quilômetros de Manaus), a expedição gaúcha tinha como meta, segundo o coronel Hiram Reis, levar conhecimento sobre a região Amazônica para os alunos do Colégio Militar de Porto Alegre.– A idéia é levar o conhecimento para o Colégio Militar de Porto Alegre porque essa gurizada que está hoje no colégio pode vir a assumir um posto de comando mais tarde. E tem a questão da soberania da Amazônia. Para você tomar decisões a respeito de uma região, você tem que conhecê-la – explicou.
sábado, 31 de janeiro de 2009
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