quinta-feira, 31 de maio de 2012
CERCA E MANGUEIRA DE PEDRA
Mangueira de Pedra.
Artista
Jayme Caetano Braun
Velha mangueira crioula,
curral de pedra empilhada
que até o pastor da manada
bombeia com desconfiança,
ficaste como lembrança
da infância desta querência
guardando a mesma inocência
dos brinquedos de criança!
Dizem que foi o jesuíta
que te ergueu nas solidões,
da fronteira, das missões
do litoral e da serra
para que fosses a encerra
das primitivas tambeiras
e das éguas caborteiras
mais livres que a própria terra!
E te plantaram no campo,
com metro e meia de altura,
meia braça de largura, redonda ou de cantoneiras;
quatro varas nas porteiras roliças e descascadas
como lanças encravadas no buraco das fronteiras.
E, alí, no aberto, aprumada, remendo na cesmaria
te irmanaste com serventia ao laço e à boleadeira
qual outra nota campeira da nossa Sociologia
prenuciando a trilogia: rampão, rodeio e mangueira.
Depois, ao berrar do gado e ao relinchar da tropilha
viste surgir na cochilha um casarão empedrado
e o vulto desempenado, de rampão de rente aberta
com santa fé na coberta para um bugre empenachado.
Era o galpão do Rio Grande, era a estância que surgia
vertente da economia do Brasil Meridional
com um abraço cordial aberto na natureza
exprimindo a singeleza do velho pago natal.
E se galpão foi o templo da xucra democracia
tu foste a arena bravia onde gladiadores novos
perpetuaram corcovos uma epopéia sem fim
pra que teu rude clarim fosse ouvido noutros povos.
E na estranha sinfonia
de Corcom e de Marquascaço
de perra de tiro e de laços
nas monarcas dos galpões
nas tomas demarcações
junto ao fogão da amizade
tu foste o traço da igualdade
entre endierras e os patrões
e tivestes os teus verões.
Velha mangueira retaca
desde o que há de botar vaca,
artes do poema campeiro
até o chiru pataqueiro
que, para enlevo das chinas
fazia rédea das crinas
do potro mais caboiteiro.
O tempo foi se passando, modoiicou-se a querência
mas tu não perdeste a essência
pois mesmo de varejão e até mesmo de listão
com tronco, seringa e brefe
o teu vulto ainda reflete a infância do nosso rincão.
Aos próprios irracionais emprestas calor e afeto
pois mesmo aberta e sem teto és vivenda hospitaleira
e a vaca que foi campeira fica por ti enfeitiçada
passa o dia na invernada e vem dormir na mangueira.
Ao evocar-te,Mangueira, volto à piazinho pequeno,
pés molhados de sereno e, às vezes, blusa de chiado
campiando vacas estraviadas choramingando de nojo
pra depois, beber a bojo, com gosto de madrugada.
Por isso, não admira Mangueira da minha infância
a este pobre pia de estância o que tu significas
Como tu, sequei meu pranto mas continuo aporriado
até ser emangueirado na terra do campo santo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário