A grandeza não consiste em receber honras, mas em merecê-las. (Aristóteles)
SOLDADO!
Soldado! Certamente haverá um dia em que alguém te dirá, em tom
irônico, que és um parasita, um sanguessuga, que para nada serves,
nada de útil fazes, és um estorvo para teu País.
Não ligue, porém, Soldado. Não deixe tais comentários, lançados em
teu rosto como cusparada vil, te roubarem a calma, te perturbarem o
coração.
Responda, sereno: Meu amigo, assim falas porque não me viu a
amparar os sofridos sertanejos da caatinga nordestina, a curar os
enfermos nos grotões da Amazônia, a socorrer os flagelados pelas
enchentes de Minas, a agasalhar as infelizes vítimas do frio sulino.
Assim falas porque jamais sentistes a dor da saudade dos teus
amores a aumentar a cada instante, sob o peso das longas jornadas e
das imensas distâncias, pelos confins deste País de Meu Deus!
Assim falas porque jamais pesou sobre teus ombros a
responsabilidade de transformar meninos em homens, forjando-lhes o
caráter e dando-lhes maturidade para tomar as rédeas de suas vidas nas
próprias mãos.
Jamais, amigo, soubestes o que é passar dias e noites
caminhando sob chuva e frio, sentido o vento minuano a castigar-te o
corpo.
Nunca tivestes que enfrentar a imensidão verde e abafada da
floresta, dias a fio, sobrevivendo apenas do que a mata te oferece.
Em tempo algum transpusestes a caatingas sob sol escaldante,
jamais vadeaste, a peito nu, um rio dos pampas, em noite de agosto.
Dormias, amigo, calma e profundamente, enquanto eu, nas
fronteiras, velava por tua segurança.
Descansavas na praia, tranquilamente, com tua família, enquanto
eu enfrentava dias e dias de barco rio acima e rio abaixo, patrulhando
os limites do País!
Falas assim, amigo, porque não estavas a meu lado, ajudando a
mitigar o sofrimento do povo de Angola e do Timor, de Honduras e da
Nicarágua, do Peru, da Bósnia e do Haiti!
Ah! Meu amigo, se me visses, qual Ulisses moderno, abrindo
dois mil quilômetros de estrada, de Cuiabá a Rio Branco, numa Odisséia
real, para que descobrisses um novo Brasil, certamente não falarias
assim.
Ah! Se tivesses chorado comigo os companheiro mortos cumprindo
seu dever, em todos os recantos da Pátria, entenderias porque existo.
Mas, amigo, não te sintas constrangido. Apague do rosto essa
expressão envergonhada, pois não tens obrigação de saber disso
tudo,assim como não é meu papel alardear o que faço, mas sim,
trabalhar simplesmente, pois a servidão, a renúncia e a humildade, que
em outros seriam apontadas como grandes virtudes, para o soldado
espelham apenas o dever de toda uma vida.
Saiba, porém, amigo, que onde estiveres, estarei sempre
guardando teu sono, silenciosa e anonimamente, como convém a todos os
SOLDADOS deste nosso BRASIL!
sábado, 7 de janeiro de 2012
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