BRASIL E GLOBALIZAÇÃO
A história da humanidade nos mostra que as fases de incremento ou redução da circulação de riquezas e idéias acompanham a fragmentação do poder mundial. Os grandes impérios sempre facilitaram a circulação, enquanto a divisão em um grande número de centros de poder a dificultou. Assim, os picos do processo civilizatório e da integração coincidiram com a existência de Impérios. Esse incremento da “circulação” apresenta, na origem, os mesmos fundamentos que permitiram o surgimento do atual processo de globalização, ou seja, atenuação das fronteiras e a existência de um poder dominante.
Com a implosão da União Soviética, os Estados Unidos (EUA) adquiriram a condição de potência hegemônica e, logo após, assumiram o papel de Império. Entretanto, o que o tornou esse processo inédito, diferenciado dos anteriores, foi sua rapidez, extensão e profundidade. Apoiado em sistemas de comunicação nunca antes imaginados, empresas com abrangência mundial e técnicas gerenciais extremamente ágeis e eficazes, alterou completamente a noção de Estado Nacional e de Fronteira, com todas as implicações que isso acarreta. Baseado fundamentalmente na especulação financeira e na distribuição transnacional de processos para reduzir custos e vulnerabilidades, alçou, definitivamente, o lucro à posição de soberano e de divindade.
Para facilitar esse processo foi buscada a anulação dos outros valores, a derrubada de fronteiras e barreiras, a “dessocialização” e a desnacionalização. Essas ações foram muito facilitadas por correntes de pensamento como o desconstruconismo e a antropologia-ação, ambos desenvolvidos na Sorbonne, sendo paradigmas culturais, particularmente para as esquerdas latino-americanas. Também podemos mencionar os efeitos da tática gramscista para a tomada do poder, que determina a derrubada de todas as “trincheiras” da sociedade capitalista, debilitando o poder nacional. Tais correntes de pensamento enfraqueceram os laços da nacionalidade, estigmatizaram o patriotismo e induziram à contestação sistemática de todas as estruturas e normas sociais, contribuindo sobremaneira para a fragilidade que facilitou a nova dominação, desta vez do capitalismo mundial.
Por sua vez, a imposição da cultura, do poder militar, e o enorme esforço técnico-científico realizado para manter a dianteira tecnológica, são utilizados, continuamente, pelo poder dominante para manutenção do status quo atual.
Com a conivência dos governos que se curvaram ao capital ou daqueles que se deixaram levar pela ilusão de “modernidade”, foi possível globalizar a economia, livrando-a de qualquer tipo de regulação ou controle. Depois de implantada, essa “nova ordem mundial” deixou os entes estatais, principalmente os emergentes e os conhecidos como “rebeldes” na condição de impotência para modificar tal situação. Os arautos da globalização chegaram a proclamar “O Fim da História”.
Ledo engano! O protecionismo e o renascimento da xenofobia na Europa, o protecionismo e o neo-isolacionismo nos EUA, a pressão descarada destas potências para que os demais “relativizem” sua soberania mostra que o nacionalismo ressurge como essência dos processos políticos e geopolíticos deste século XXI. Nesse patriotismo as potências buscam a motivação para manter sua posição dominante, estabelecendo a nova forma de imperialismo. Tal conceito imperialista, de soberania limitada, nos assalta dia a dia pela mídia, seja justificar intervenções das potências ou para promover separatismos, à revelia dos povos-alvo e das leis internacionais. Voltemos nossa atenção para o Iraque, Sudão, Kosovo, Tibet, Curdistãos e nossa vizinha Bolívia, entre muitos outros exemplos.
Também é no nacionalismo que os países candidatos à potência encontram a força necessária para conquistar novos espaços de influência e poder.
Nós, periféricos e pouco relevantes na arena mundial, nada apresentamos para contrapor a este quadro opressor. Com a visão intelectual e política totalmente voltada à esquerda, desnorteada pelo fracasso do socialismo real, mudamos de uma visão de igualdade para uma multicultural. Acreditou-se que as fronteiras se dissolveriam, permitindo, objetivamente, uma mudança qualitativa nas relações planetárias. A crítica, feita sem consistência, se dirigiu apenas aos aspectos mais desumanos dessa nova roupagem do imperialismo – destaque-se a irrelevância e o sectarismo do Fórum Social Mundial. Para reduzir ainda mais nossa capacidade de reação, nossas legendas políticas mais relevantes nasceram sob o signo da globalização, quando patriotismo e nacionalismo eram considerados anacrônicos, e não conseguiram evoluir essa cosmovisão, nem entender completamente o mundo em que estamos inseridos, mantendo uma visão pueril e dicotômica, de luta de classes, do bem e do mal, de saudosismo de um passado que não houve.
O tempo é irreversível, passa rápido, e as chances perdidas não retornam. Vemos exemplos, como a China e a Índia, que aproveitaram os aspectos positivos da globalização e a boa fase da economia mundial para acumular e distribuir riquezas, obter e desenvolver conhecimento, bem como aumentar o poder nacional em todos os campos. E o fizeram aceleradamente, pois sabem que a bonança não é eterna, que a próxima crise, provavelmente a mais grave de nossa era, se aproxima, pois já se apresentam seus sintomas. Trabalham para enfrentá-la fortes, ágeis e saudáveis.
O Brasil se caracteriza pela histórica dificuldade em entender, aceitar e enfrentar a realidade. Para nossa sorte, possuímos grande quantidade de recursos em nosso território, o que amenizará a dureza da crise, desde que realizadas as ações adequadas. O investimento em educação é imprescindível, para que as novas gerações tenham condições de enfrentar o mundo cada vez mais difícil e competitivo que será sua herança. Há necessidade, urgente, de resgatarmos o patriotismo e de trabalharmos para atingir nossos objetivos nacionais, que devem se subordinar aos interesses dos brasileiros, não a um intangível desejo de salvar o mundo ou de se apresentar como paladino dos pobres e explorados. Precisamos, urgentemente, deixar de lado o culto aos fracos e aos derrotados, para começar a reconhecer aos vitoriosos e aos exemplos de força e de fé, pois apenas esses nos mostram como triunfar. É mister adotar políticas pragmáticas, que atendam aos nossos interesses.
Imperioso é reconhecer a nós mesmos como indivíduos criativos, capazes e empreendedores, com a necessária auto-estima, e não como seres pobres e incapazes, irresponsáveis e dependentes de governos ou instituições outras.
Precisamos entender que o passado é irreversível, que não nos cabe julgar nossos antepassados, pois viviam outros contextos. É fundamental perderemos o bloqueio inibidor do “pecado original” e do complexo de culpa pelos muitos crimes que não cometemos, abandonar essa auto-flagelação que nos tolhe a iniciativa e bloqueia a capacidade de evoluir. É necessário empregar o conhecimento do passado, porém para desenvolver, construtivamente, projetos que tragam o futuro que desejamos, independentemente e apesar da globalização e do imperialismo, pois, sendo fortes e confiantes, poderemos atingir nossos objetivos e criar não utopias, mas as realidades almejadas.
Manaus, 29 de abril de 2008
Cesar Augusto Silva Beheregaray
A história da humanidade nos mostra que as fases de incremento ou redução da circulação de riquezas e idéias acompanham a fragmentação do poder mundial. Os grandes impérios sempre facilitaram a circulação, enquanto a divisão em um grande número de centros de poder a dificultou. Assim, os picos do processo civilizatório e da integração coincidiram com a existência de Impérios. Esse incremento da “circulação” apresenta, na origem, os mesmos fundamentos que permitiram o surgimento do atual processo de globalização, ou seja, atenuação das fronteiras e a existência de um poder dominante.
Com a implosão da União Soviética, os Estados Unidos (EUA) adquiriram a condição de potência hegemônica e, logo após, assumiram o papel de Império. Entretanto, o que o tornou esse processo inédito, diferenciado dos anteriores, foi sua rapidez, extensão e profundidade. Apoiado em sistemas de comunicação nunca antes imaginados, empresas com abrangência mundial e técnicas gerenciais extremamente ágeis e eficazes, alterou completamente a noção de Estado Nacional e de Fronteira, com todas as implicações que isso acarreta. Baseado fundamentalmente na especulação financeira e na distribuição transnacional de processos para reduzir custos e vulnerabilidades, alçou, definitivamente, o lucro à posição de soberano e de divindade.
Para facilitar esse processo foi buscada a anulação dos outros valores, a derrubada de fronteiras e barreiras, a “dessocialização” e a desnacionalização. Essas ações foram muito facilitadas por correntes de pensamento como o desconstruconismo e a antropologia-ação, ambos desenvolvidos na Sorbonne, sendo paradigmas culturais, particularmente para as esquerdas latino-americanas. Também podemos mencionar os efeitos da tática gramscista para a tomada do poder, que determina a derrubada de todas as “trincheiras” da sociedade capitalista, debilitando o poder nacional. Tais correntes de pensamento enfraqueceram os laços da nacionalidade, estigmatizaram o patriotismo e induziram à contestação sistemática de todas as estruturas e normas sociais, contribuindo sobremaneira para a fragilidade que facilitou a nova dominação, desta vez do capitalismo mundial.
Por sua vez, a imposição da cultura, do poder militar, e o enorme esforço técnico-científico realizado para manter a dianteira tecnológica, são utilizados, continuamente, pelo poder dominante para manutenção do status quo atual.
Com a conivência dos governos que se curvaram ao capital ou daqueles que se deixaram levar pela ilusão de “modernidade”, foi possível globalizar a economia, livrando-a de qualquer tipo de regulação ou controle. Depois de implantada, essa “nova ordem mundial” deixou os entes estatais, principalmente os emergentes e os conhecidos como “rebeldes” na condição de impotência para modificar tal situação. Os arautos da globalização chegaram a proclamar “O Fim da História”.
Ledo engano! O protecionismo e o renascimento da xenofobia na Europa, o protecionismo e o neo-isolacionismo nos EUA, a pressão descarada destas potências para que os demais “relativizem” sua soberania mostra que o nacionalismo ressurge como essência dos processos políticos e geopolíticos deste século XXI. Nesse patriotismo as potências buscam a motivação para manter sua posição dominante, estabelecendo a nova forma de imperialismo. Tal conceito imperialista, de soberania limitada, nos assalta dia a dia pela mídia, seja justificar intervenções das potências ou para promover separatismos, à revelia dos povos-alvo e das leis internacionais. Voltemos nossa atenção para o Iraque, Sudão, Kosovo, Tibet, Curdistãos e nossa vizinha Bolívia, entre muitos outros exemplos.
Também é no nacionalismo que os países candidatos à potência encontram a força necessária para conquistar novos espaços de influência e poder.
Nós, periféricos e pouco relevantes na arena mundial, nada apresentamos para contrapor a este quadro opressor. Com a visão intelectual e política totalmente voltada à esquerda, desnorteada pelo fracasso do socialismo real, mudamos de uma visão de igualdade para uma multicultural. Acreditou-se que as fronteiras se dissolveriam, permitindo, objetivamente, uma mudança qualitativa nas relações planetárias. A crítica, feita sem consistência, se dirigiu apenas aos aspectos mais desumanos dessa nova roupagem do imperialismo – destaque-se a irrelevância e o sectarismo do Fórum Social Mundial. Para reduzir ainda mais nossa capacidade de reação, nossas legendas políticas mais relevantes nasceram sob o signo da globalização, quando patriotismo e nacionalismo eram considerados anacrônicos, e não conseguiram evoluir essa cosmovisão, nem entender completamente o mundo em que estamos inseridos, mantendo uma visão pueril e dicotômica, de luta de classes, do bem e do mal, de saudosismo de um passado que não houve.
O tempo é irreversível, passa rápido, e as chances perdidas não retornam. Vemos exemplos, como a China e a Índia, que aproveitaram os aspectos positivos da globalização e a boa fase da economia mundial para acumular e distribuir riquezas, obter e desenvolver conhecimento, bem como aumentar o poder nacional em todos os campos. E o fizeram aceleradamente, pois sabem que a bonança não é eterna, que a próxima crise, provavelmente a mais grave de nossa era, se aproxima, pois já se apresentam seus sintomas. Trabalham para enfrentá-la fortes, ágeis e saudáveis.
O Brasil se caracteriza pela histórica dificuldade em entender, aceitar e enfrentar a realidade. Para nossa sorte, possuímos grande quantidade de recursos em nosso território, o que amenizará a dureza da crise, desde que realizadas as ações adequadas. O investimento em educação é imprescindível, para que as novas gerações tenham condições de enfrentar o mundo cada vez mais difícil e competitivo que será sua herança. Há necessidade, urgente, de resgatarmos o patriotismo e de trabalharmos para atingir nossos objetivos nacionais, que devem se subordinar aos interesses dos brasileiros, não a um intangível desejo de salvar o mundo ou de se apresentar como paladino dos pobres e explorados. Precisamos, urgentemente, deixar de lado o culto aos fracos e aos derrotados, para começar a reconhecer aos vitoriosos e aos exemplos de força e de fé, pois apenas esses nos mostram como triunfar. É mister adotar políticas pragmáticas, que atendam aos nossos interesses.
Imperioso é reconhecer a nós mesmos como indivíduos criativos, capazes e empreendedores, com a necessária auto-estima, e não como seres pobres e incapazes, irresponsáveis e dependentes de governos ou instituições outras.
Precisamos entender que o passado é irreversível, que não nos cabe julgar nossos antepassados, pois viviam outros contextos. É fundamental perderemos o bloqueio inibidor do “pecado original” e do complexo de culpa pelos muitos crimes que não cometemos, abandonar essa auto-flagelação que nos tolhe a iniciativa e bloqueia a capacidade de evoluir. É necessário empregar o conhecimento do passado, porém para desenvolver, construtivamente, projetos que tragam o futuro que desejamos, independentemente e apesar da globalização e do imperialismo, pois, sendo fortes e confiantes, poderemos atingir nossos objetivos e criar não utopias, mas as realidades almejadas.
Manaus, 29 de abril de 2008
Cesar Augusto Silva Beheregaray