Penso que não é preciso muito esforço para entender o óbvio:
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Um Capitão do Exército ganha o equivalente a um soldado da Polícia Militar de Brasília, que também é pago pelos cofres do governo federal. Um Coronel, no final da carreira, está equiparado a um 2º Sargento.
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Um patrulheiro da Polícia Rodoviária no nível mais baixo, comandando uma motocicleta e também pago pelos cofres federais, ganha mais que um major da FAB, experiente piloto de jatos.
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Os concursos públicos são um imenso atrativo. Na Academia do Concurso, que fica na Lapa ao lado da igreja de N.S. do Carmo, existe uma turma somente para Aspirantes da Escola Naval.
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Nos últimos concursos para prático de alguns portos, foi grande o número de oficiais da Marinha inscritos, o que causou mal estar nos comandos. Os oficiais formados pelo IME sem terem passado pela AMAN, em pouquíssimo tempo são fortes candidatos aos concursos onde, por mais difíceis que sejam, têm êxito. As turmas se acabam sem que o Exército aproveite a mão de obra altamente qualificada que formou.
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Os tempos são outros e a nossa geração precisa entender isto. A multiplicidade de oportunidades bate à porta dos adolescentes na hora de escolher a carreira e o fator dinheiro está presente em cada momento da decisão. Acontece no Brasil, acontece no mundo todo, não somos diferentes. Vai longe o tempo que a jovem professorinha ficava feliz em casar com o jovem Tenente e morar em um apartamento alugado no subúrbio. Hoje, além de exercerem profissões de nível financeiro mais alto, elas sentem dificuldades em conviver com um marido que sai de casa diariamente para uma base aérea onde os aviões não voam, para um navio que não sai do porto ou para uma unidade de Artilharia que não atira.
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É preciso não confundir orgulho em conquistar o direito de usar a farda com as condições diárias, reais, verdadeiras para usá-la. É injusto acusar a juventude militar de falta de entusiasmo, falta de vibração, sem entender a forma como vivem, as perspectivas que lhes são oferecidas, a comparação com o mundo do lado de fora dos muros dos quarteis.
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Como resultado, as famílias tradicionalmente de militares estão se acabando. Como último Alencar Araripe, do Exército, sou um exemplo disto: ninguém mais me seguiu. Alguns tentaram mas desistiram, talvez atraídos pelo chamamento do mundo exterior. Não estou arrependido e, creio, nenhum de nós está, mas é importante saber que cada um julgou a decisão tomada de acordo com o momento em que o fato ocorreu. Como disse o historiador francês Lucien Fèvre, "a História é filha do seu tempo" ou seja, a História precisa ser estudada dentro do contexto em que os fatos aconteceram. Julgar a situação atual dos jovens militares com o olhar dos Aspirantes dos anos 50 ou 60 é, mais que um erro histórico, uma injustiça. Autor não informado
16/04/2011 07h00
- Atualizado em 16/04/2011 07h00
Exército registra em 2010 recorde de pedidos de desligamento em 10 anos. Militares apontam baixo salário como motivo para demissões voluntárias. Diminuiu ainda procura nos concursos, em especial da Escola de Sargentos.
Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
Um levantamento realizado pelo Exército a pedido do G1 aponta que 2010 foi o ano com maior número de pedidos de desligamento de oficiais e sargentos do Exército em dez anos. Foram 105 pedidos de demissão no ano passado, em 2009 foram 88. Para se ter uma ideia, em 2000, apenas 44 militares de carreira pediram para ir para a reserva.
Os dados apontam, ainda, queda no número de inscritos em algumas escolas militares desde 2000. A variação na relação candidato/vaga é mais visível na Escola de Sargento das Armas (EsSA), que em 2000 tinha 97.685 inscritos para 1.500 vagas (65 candidatos/vaga), e no ano passado apresentou 42.850 candidatos para o concurso de 1.178 vagas (média de 36 candidatos/vaga).
Em nota, o Centro Comunicação Social do Exército disse que “o número de inscritos para o exame de seleção da Escola de Sargentos das Armas (EsSA) vem se mantendo dentro de uma média de, aproximadamente, 40.000 candidatos/ano”, mas que “observa-se uma redução ao longo dos últimos anos” devido a três fatores: a exigência, a partir de 2006, de que os candidatos tenham ensino médio completo, “o considerável crescimento do número de vestibulares no país” e “o elevado número de concursos públicos realizados nos últimos anos no Brasil”.
Demais unidades de ensino especializadas, como o Instituto Militar de Engenharia (IME), a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), que prepara os futuros oficiais, e a Escola de Formação Complementar do Exército (EsFCEx), que seleciona e prepara profissionais já com curso superior, também apresentaram variação na procura durante a década, mas o número de inscritos voltou a subir em 2010, segundo o Exército.
“Eu amava o Exército, gostava de ser militar, mas infelizmente a remuneração não compensa. Desde que dei baixa, fiz concurso público e agora sou técnico judiciário em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina”, disse ao G1 Heron Dias, de 32 anos. Ele era 2º sargento quando pediu desligamento em 2002. O salário dessa função atualmente é de R$ 2.748, segundo dados do Ministério da Defesa.
“Hoje, eu ganho o equivalente ao salário de um capitão”, afirmou Dias (ex-Sgt Heron Dias), cuja remuneração atual supera os R$ 5.340, que é o soldo de um capitão.
“Ser militar era um sonho de infância, e servi durante cinco anos no Rio de Janeiro, na Escola de Material Bélico e no Batalhão Logístico. Morava em frente ao Morro da Mangueira e vivenciava diariamente tiroteios. Vivia assustado, temendo, por ser militar, que me matassem quando fosse assaltado”, relembrou ele.
Já o sargento Glauber Rafael Vargas, de 29 anos, pediu demissão do Exército após nove anos de carreira, por outro motivo. Após atuar como militar no Rio de Janeiro, Amazonas e Acre, ele prestou concurso público e agora é agente da Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso. “No meio militar, a hierarquia e a disciplina, muitas vezes, se confudem com falta de respeito. Me estressava um bocado, era humilhado, trabalhava sempre sobre pressão, correndo risco de punição. Agora, me considero profissionalmente realizado”, afirmou.
Ano
Desligamentos*
2000
44
2001
30
2002
38
2003
59
2004
53
2005
53
2006
96
2007
68
2008
100
2009
88
2010
105
Fonte: Exército
* Desligamentos de oficiais a pedido
Para o tenente Luiz Eugênio Bezerra Mergulhão Filho, presidente da Associação dos Oficiais da Reserva e Reformados das Forças Armadas, a remuneração é o principal fator que leva à debandada dos militares. “O mercado civil sempre pagou melhor que o militar. Ainda mais com os cortes no orçamento das Forças Armadas”, disse.
Segundo Mergulhão Filho, a decisão do desligamento “varia de pessoa para pessoa”. “A decisão entre quem sai e quem fica está no gostar do que faz. O militar que gosta nunca pensou em salário”, afirmou.
Já para o doutor em relações internacionais e especialista militar Gunther Rudzit, a economia é o principal fator para a mudança na procura da carreira militar. “Com o mercado aquecido, fica difícil reter nas Forças Armadas o profissional especializado. Acho que é só isso, não acredito que esteja havendo uma mudança na percepção da sociedade sobre as Forças Armadas", afirmou.
Para o escritor Leonardo Trevisan, especialista na área, um dos fatores que provocam as demissões é que, “enquanto o oficial vislumbra uma carreira em que vai ganhar mais, o sargento não vê isso”. Ele afirmou que, pelas pesquisas de aptidão entre jovens, não percebe “alterações no apelo pela carreira militar”. “Ela é uma carreira que independe da economia, pois muitas vezes está ligada à vocação. Tanto que as Forças Armadas não precisam fazer anúncio na TV convocando os jovens para se alistar anualmente. A cada dois anos é suficiente”, disse.
Em nota, o Exército afirmou que o número de desligamentos da tropa no ano passado é “mínimo”, representando aproximadamente 0,42% do total de oficiais, hoje em 25 mil, segundo a corporação. “A Força entende que os números envolvidos na questão estão dentro dos padrões e coerentes com a série histórica no âmbito do Exército”, segundo o texto.
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