LIBERDADE EM RISCO
(por Maynard Marques de Santa Rosa)
Ao confrontar a milenar ordem obscurantista que mantinha
cativo o pensamento humano, a onda iluminista do século XVIII devastou
as tradições e os costumes, sem a menor consideração com o equilíbrio
social.
As novas atitudes libertaram os instintos e paixões
longamente reprimidos, despertando a consciência desenfreada dos
indivíduos e minorias sobre os seus direitos, sem a limitação natural
dos respectivos deveres.
Foi assim que, juntamente com o restolho medieval,
descartaram-se referenciais importantes da ética tradicional, entre
eles o maior ensinamento que o cristianismo legara para a harmonia
humana: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo”.
Apesar disso, consagrou-se o conceito humanista de
Montesquieu de que “Todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser
exercido”; e o de que a expressão da vontade popular é a manifestação
da maioria.
Ao longo do tempo, porém, o oportunismo aproveitou-se das
dissensões e tendências maniqueístas da mente humana, para consolidar
as ideologias que dividem a sociedade.
Com objetivos inconfessáveis, teóricos do século XX
relativizaram o conceito de maioria e passaram a buscar a hegemonia
das minorias sobre o conjunto da sociedade. O bom-senso foi sendo
substituído pelo chamado senso comum, abstraindo-se-lhe o componente
de sabedoria popular.
Na Alemanha, o poder de influenciar a opinião por meio da
propaganda permitiu a Goebbels sobrepor a realidade artificial do
ideário nazista à realidade dos fatos.
No Brasil, os artifícios psicológicos de Gramsci forçam o
predomínio de conceitos exóticos, como o de deficiência sobre o de
eficiência, e o de naturalismo sobre a própria natureza; e até mesmo
pretendem impor comportamentos anti-naturais como sendo absolutamente
naturais.
A alegria espontânea do povo brasileiro, traço característico
da alma nacional, sempre se destacou pela irreverência. Por isso,
tornou-se vítima do patrulhamento ideológico, mediante a orquestração
de antinomias e idéias-força que os agentes do comportamento
padronizado rotulam como politicamente corretas.
Nem mesmo merece respeito a liberdade de expressão assegurada
explicitamente pela Constituição Federal, como na exploração de
entrevista recente do deputado Jair Bolsonaro.
Não faltam argumentos para restringir-se a liberdade das
pessoas. Invocando o combate ao “bullying”, pretende-se penetrar no
ambiente sagrado da família, após violada a intimidade da escola. O
pacifismo “inocente”, que estimula o desarmamento do cidadão, pretende
retirar-lhe o mesmo direito que a vontade civilizada do povo suíço
reafirmou, peremptoriamente, em plebiscito histórico. E já se fala em
copiar a bizarra proposta hondurenha de proibir o cigarro no interior
das residências.
Na verdade, parece que se quer produzir no Brasil uma sociedade
controlada. Convém lembrar que o direito é um conjunto de regras
impostas sobre o livre-arbítrio da pessoa, enquanto que a moral
consiste em regras que a pessoa observa por adesão.
Na dialética dos atores coletivos, dizia André Beauffre: “A luta pela
liberdade de ação é a essência da estratégia”. No campo individual, a
afirmativa é ainda mais verdadeira, por uma razão incontestável: o
direito à liberdade da pessoa humana.
Alexis de Tocqueville, em análise memorável da Revolução Francesa,
alertou para o fato de que: “Das próprias entranhas de uma nação que
acabava de derrubar a realeza, viu-se sair subitamente um poder mais
extenso, mais detalhado, mais absoluto do que o que fora exercido por
qualquer dos nossos reis”.
Não se sabe a intenção final, mas uma coisa é certa: uma sociedade
manietada é uma comunidade morta. E ideologia sem sabedoria é fonte
primordial de anarquia.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
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