As forças divinas nas selvas amazônicas.
Por Siro Darlan, desembargador do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, membro da Associação Juízes
para a democracia e do Instituto dos Advogados do Brasil.
O Brasil ainda busca a verdade
sobre os últimos fatos históricos. O que é a verdade? Quantas vezes já
acreditamos em coisas que mais tarde descobrimos ser bem diferente
daquilo que pensávamos? Quantas vezes a “ciência” nos provou teses que
mais tarde foram superadas? O Brasil precisa ser mais bem conhecido em
sua imensidão e tive a oportunidade de conhecer um pedaço grande desse
país continental que nem a mais poderosa empresa de comunicação social
revelou.
Tive o privilégio de viajar
durante uma semana para conhecer uma parte desse Brasil desconhecido e
um pouco abandonado pelo Brasil político e litoral e deslumbrado com o
que vi. Em meio a uma natureza exuberante e misteriosa visitei São
Gabriel da Cachoeira, segundo maior município do Brasil, com 109, 200
quilômetros quadrados, área maior que nove estados brasileiros, como
Alagoas (27.767 Km²), Rio de Janeiro (43.910 Km²), Espírito Santo
(46.077 Km²), Paraíba (56.439 Km²), Pernambuco (98311 Km²), Rio Grande
do Norte (56.796 Km²) Santa Catarina (95.346 Km²) e Sergipe (21.910
Km²). Habitado essencialmente por indígenas e situado no Parque
Nacional da Serra da Neblina, o ponto mais alto do território
brasileiro.
Para chegar a Maturacá, o
primeiro passo foi viajar durante mais de duas horas por sobre a selva
amazônica num avião da Força Aérea Brasileira, pousando antes em São
Gabriel da Cachoeira para abastecer e conhecer o pelotão de soldados
do Exército formado por 70 indígenas das mais variadas etnias que nos
recebeu com a Oração da Selva recitada por quatro soldados em seus
dialetos tribais, mas com muita fibra e emoção:
"Senhor, tu que ordenastes ao
guerreiro de Selva, sobrepujai todos os vossos oponentes, dai-nos hoje
da floresta, a sobriedade para resistir, a paciência para emboscar, a
perseverança para sobreviver, a astúcia para dissimular, a fé para
resistir e vencer, e daí-nos também Senhor a esperança e a certeza do
retorno, mas, se, defendendo essa brasileira Amazônia tivermos que
perecer, oh Deus, que façamos com dignidade e mereçamos a vitória,
Selva!!!"
Após ouvir esses guerreiros
amazônicos recitarem essa oração e cantarem o Hino Nacional, não pude
fugir a um emocionado sentimento de orgulho e brasilidade.
Naqueles rincões longínquos da
fronteira com a Venezuela o único sinal do Estado brasileiro conhecido
é o Exército que não cuida apenas de garantir a soberania do Brasil
naquelas terras como faz o papel de prefeito, juiz, delegado, gestor
de saúde e de educação. Enfrentando as doenças como malária,
leshimaniose, febre amarela, desinteria, dentre outras os soldados
estão onde não se faz presente a policia de fronteira, que deveria ser
a Policia Federal, nem a policia civil que deve garantir a lei a e a
ordem, nem qualquer autoridade judiciária.
O Exército se faz presente transportado
pelas asas da Força Aérea ou pelos navios da Marinha que também faz
uma ação de saúde através dos navios da esperança que levam os
serviços de saúde às populações ribeirinhas.
A chegada em Maturaca foi marcada por um
encontro emocionante com as crianças ianomâmis, que logo receberam
como presente camisas do Flamengo, única instituição, além do
exército, que está em todos os recantos do Brasil.
Após esse encontro descontraído, foi só
emoção testemunhar que enquanto muitos se preocupam em revolver o
passado, as Forças Armadas de hoje se voltam para a garantia de nossa
soberania e a construção de um futuro de inclusão de todos os povos
que moram e vivem no território brasileiro.
Apesar dessa presença das Forças Armadas,
é preciso alertar que a ausência da Policia Federal, de agentes do
IBAMA e do Ministério Público nas regiões de fronteira representam um
perigo, pois é por esse caminho que entram drogas, armas e outras
ilicitudes que contaminam as grandes cidades do país.
Enquanto essas instituições se exibem para
os meios de comunicação social apreendendo máquinas de caça níqueis e
realizando diligências pirotécnicas, melhor serviriam aos interesses
de segurança e proteção nacional se estivesse impedindo a entrada no
país de drogas e armas.
Em boa hora, o Secretário Beltrame alerta
que não bastam as forças policiais se o Estado não se fizer presente
com sua ação social e educacional, construindo os equipamentos
necessários para o exercício pleno da cidadania e respeito à dignidade
da pessoa humana. Um bom exemplo dessa prática foi a que assisti nessa
proveitosa viagem da Escola Superior de Guerra à Amazônia, onde a
presença das Forças Armadas não se faz através de equipamentos de
guerra, mas levando respeito e cidadania ao povo da selva. Vale
concluir com a saudação desse bravo povo brasileiro que ocupa e
garante o Brasil em terras ainda tão desconhecidas: Selva!
quinta-feira, 16 de junho de 2011
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