terça-feira, 16 de agosto de 2011

LEMBRAI-VOS DA GUERRA

LEMBRAI-VOS DA GUERRA




Imensa formação de brancas cruzes,
Desfile mortuário de fantasmas,
Exótico mercado de miasmas,
Exposição de ossadas e de urzes...

Calado e mudo queda-se o canhão,
Apenas trevas cobrem a amplidão,
Que outrora foi um campo batalha...
Calada e muda queda-se a metralha,
É morta na garganta a voz do obus,
O sabre traiçoeiro não reluz
Dilacerando, ensanguentado a terra...
A paz voltou, é terminada a guerra.

Os heróis tombaram das alturas,
Os covardes e os bravos olvidados,
Seus feitos aos livros relegados,
Nada mais resta, apenas sepulturas.

E eu? Quem sou? Perguntam eu quem sou?
Pois bem, eu lhes direi: sou um soldado,
Igual a qualquer outro
que avançou, combateu, foi derrubado.

Cruzes iguais... Terrivelmente iguais...
Exército que cresce mais e mais,
No festim diabólico da morte.
Aqui jaz o covarde. Ali o forte.
Aqui dorme um estranho. Ali estou eu...
Mas ninguém sabe como ele morreu...
Não se lembram do campo de batalha,
Nunca ouviram o riso da metralha...
Não sentiram tremer o corpo inteiro
Ante o rugido brutal de um morteiro...
Não viram a cor dos olhos do inimigo.
Não sentiram o medo do perigo,
Que vos faz desejar a morte breve.
Nunca sonharam. Nunca, nem de leve.

Mas...

Nem todos se esqueceram do soldado
Que está longe, bem longe sepultado...

Mamãe, minha boa mãe, se tu soubesses
Que tua imagem adornei com flores,
Que tuas flores foram minhas preces,
Preces colhidas no jardim das dores...

Minha querida mãe, se te contasse
O medo que senti sem teu carinho,
Um medo horrível de morrer sozinho.
Medo mesmo que o medo me matasse...
Mas deixei meu abrigo e avancei
Julgando ver a morte a cada passo
Ao ouvir o sibilar de um estilhaço...
Parei... Pensei em ti... Continuei...

Minha querida mãe se te dissesse
Que quando derrubou-me uma granada
Atirando-me na terra enlameada,
Foi por ti que chamei desesperado.
Por um momento deixei de ser soldado
E fui novamente uma criança
Sentindo na morte a esperança
De ainda adormecer no teu regaço.
Mamãe. Matou-me um estilhaço...

Minha querida noiva, por que choras?
Relembras por certo as boas horas
Que passamos juntos. Só nós dois...
Íamos casar. Lembra-te ? E depois...
E depois uma casa retirada.
Cortinas nas janelas enfeitadas,
Tu me esperando... eu vindo do quartel...
A nossa casa um pequenino céu,
Aberto a vinda de um herdeiro...

Meu sonho, meu sonho derradeiro,
Foi de beijar-te antes de morrer.
Mas ao golpe frio da granada,
Beijei apenas a terra ensanguentada.

Mamãe, minha noiva, aqui se encerra
Uma história de sangue, esta é a Guerra.
Não chorem. Tudo é terminado
Rápido como coisa de soldado...

Mas mamãe...

Se novamente a pobre humanidade
Mais uma vez em busca da verdade
Rufar seus tambores sobre a Terra
Anunciando mais sangue e outra guerra,
Se outro filho a Pátria te exigir,
Sem lágrimas mamãe, deixe-o ir...
Embora te destrua o coração,
Ainda que te alquebre a agonia
Faça-me um favor mamãe,
Peça a esse irmão,
Para que seja também da INFANTARIA !!!!












Autor: Cad. AFFONSO CLAUDIO DE FIGUEIREDO

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